História
A Segunda Guerra Mundial foi o período de maior número de afundamentos já ocorrido na história do Atlântico Sul —onde cerca de 500 embarcações estão submersas. Dois desses navios nazistas afundados em 1944 ficaram conhecidos recentemente por terem fardos que transportavam encontrados em praias do Nordeste. O material tem emergido desde 2018….
“São próximo à Paraíba”, disse ao G1 sobre os aparecimentos no litoral nordestino e no litoral de São Paulo o biólogo Clemente Coelho Jr, da Universidade Federal de Pernambuco (PE).
Desde 2018, fardos de látex aparecem no litoral brasileiro. Dados preliminares da pesquisa apontam que o material pertence ao navio de carga alemão MV Weserland, naufragado pela Marinha dos Estados Unidos em janeiro de 1944, no auge da Segunda Guerra Mundial.
Uma publicação feita por pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) em 1946 já apontava que à época os pescadores recolhiam esses fardos do mar, após eles boiarem com o afundamento, e os vendiam, lucrando mais até do que com venda da pesca. “Esses fardos, na verdade, são blocos maciços de borracha. Esse formato de bloco era a forma utilizada para transportá-los”.
Contorno pelo sul da África
Esse material não era buscado no Brasil, mas sim no Sudeste Asiático. Os alemães iam a países sob influência ou controle japonês —como Malásia, Singapura, Indochina (onde hoje estão os países Vietnã, Laos e Camboja)— para buscá-lo. A logística da guerra, porém, impôs dificuldades aos alemães, que precisavam contornar a África para chegarem à Europa. “Os alemães até tentaram conquistar o canal de Suez [no Egito, que liga mar Vermelho ao Mediterrâneo], mas foram derrotados pelos britânicos”, explica. Sem controle dos mares e com o bloqueio imposto pelos países aliados aos navios do Eixo (formado por Itália, Alemanha e Japão) a rotas próximas ao Oriente Médio, o Atlântico Sul era a única rota possível para transporte. Mesmo nessa área, havia navios e aviões aliados fazendo patrulhamento, que sempre capturavam ou afundavam embarcações na região. Segundo o site Sixtant, especialista em afundamentos ocorridos na Segunda Guerra Mundial, foram ao menos 21 navios nazistas submersos no Atlântico Sul, além de outros três capturados. Há ainda 25 Uboats (submarinos alemães).
Os especialistas acreditam que o surgimento e reaparecimento dos fardos pode estar ligado a uma possível tentativa de violação aos restos da embarcação alemã, afundada nas águas do Atlântico Sul, em território britânico. Na época do naufrágio, o navio transportava uma valiosa carga de estanho, um dos tipos de metais nobres mais valorizados no mercado internacional.
“Fazendo uma busca rápida na internet, a gente viu que o preço do estanho praticamente triplicou entre o final de 2020 e o começo de 2021. Sabemos que ele é um metal muito utilizado em equipamentos eletrônicos, como celulares e computadores, e com a pandemia houve um aumento substancial na demanda por esses produtos. Tudo pode estar ligado”, comenta o pesquisador. Para sustentar a conclusão, o grupo de estudiosos realizou uma série de modelagens matemáticas que mostraram que caso os fardos saíssem do local onde aconteceu o naufrágio, o primeiro destino possível seria o litoral nordestino.
Riscos
Podendo pesar até 200 kg, os fardos são grandes caixas de borracha que, segundo os especialistas, seriam utilizadas pelos soldados alemães como estratégia ofensiva nos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Com o passar dos anos, o material pode sofrer deterioração e afetar a saúde de organismos marinhos.
Os objetos também podem representar riscos à integridade física dos seres humanos que frequentam áreas litorâneas. Em 2018, duas pessoas morreram em um acidente de buggy, na praia de Extremoz, região metropolitana de Natal (RN), após o veículo marinho ter colidido frontalmente com um fardo de borracha que flutuava no mar. Na época, os objetos apareceram em praias de todos os estados nordestinos, exceto na Bahia.